quarta-feira, 12 de setembro de 2012

?? Evangélico???


A Tradição Evangélica (Texto brilhante de John Stott)

Publicado: 27/04/2012 em EspiritualidadeEvangélicosFruto do EspíritoGlória de DeusGraça,HeresiasHistória da IgrejaIgreja dos nossos diasLiteratura
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Devemos nos chamar de “evangélicos” ou não? Dentro dos debates que tenho visto e vivido sobre se um cristão assumir a terminologia “evangélico” faz dele um religioso vazio e distante do Evangelho de Cristo, um mau fariseu (para não ser generalista e injusto com os bons fariseus, como Paulo e Gamaliel), um legalista etc, reproduzo abaixo um magnífico texto escrito pelo reverendo John Stott a esse respeito. Sugiro que você leia, reflita, dispa-se dos preconceitos e jargões e deleite-se nas reflexões desse que é considerado um dos maiores teólogos das últimas décadas – até seu falecimento recente. Segue o que o saudoso Pastor Stott falou sobre denominar-se ou não “evangélico”, a partir da perspectiva correta: a bíblica e histórica. É uma análise curta, porém magnífica, do significado desse conceito, sem a influência que nós, brasileiros, recebemos do mau exemplo de um punhado de maus líderes e igrejas que se chamam “evangélicas” mas que praticam e pregam barbaridades do ponto de vista bíblico. Ouçamos então essa voz que tanto edificou os cristãos dos séculos 20 e 21 com seu conhecimento sobre as coisas de Deus.
(Agradeço ao irmão João Paulo Silva, que me encaminhou o texto).
A Tradição Evangélica
John Stott
Gostaria de argumentar, embora corra o risco de simplificar em demasia e de ser acusado de arrogante, que a fé evangélica não é outra senão a fé cristã histórica. O cristão evangélico não é aquele que diverge, mas que busca ser leal em sua procura pela graça de Deus, a fim de ser fiel à revelação que Deus fez de si mesmo em Cristo e nas Escrituras.
A fé evangélica não é uma visão peculiar ou esotérica da fé cristã – ela é a fé cristã. Não é uma inovação recente. A fé evangélica é o cristianismo original, bíblico e apostólico. A marca dos evangélicos não é tanto um conjunto impecável de palavras quanto um espírito submisso, a saber, a resolução a priori de crer e de obedecer ao que quer que seja que as Escrituras ensinem.
Eles estão, de antemão, comprometidos com as Escrituras, independentemente do que se possa descobrir que elas digam. Eles afirmam não ter liberdade para lançar seus próprios termos para sua crença e comportamento. Percebem essa perspectiva de humildade e de obediência como uma implicação essencial do senhorio de Cristo sobre eles.
As tradições católica e liberal tendem a exaltar a inteligência e a bondade humana e, portanto, esperam que os seres humanos contribuam de alguma forma para a iluminação e salvação deles mesmos. Os evangélicos, de outro lado, embora afirmem veementemente a imagem divina que a nossa humanidade carrega, têm a tendência de enfatizar nossa finitude humana e queda e, portanto, de insistir que sem a revelação não podemos conhecer Deus e sem a redenção não podemos alcançá-lo.
Essa é a razão pela qual os aspectos essenciais do evangelho focam a Bíblia e a cruz, bem como a indispensabilidade delas, uma vez que foi por meio delas que a Palavra de Deus nos foi comunicada e que a obra de Deus em favor de nós foi realizada. Na verdade, sua graça apresenta a forma trinitária. Primeiro, Deus tomou a iniciativa em ambas as esferas, ensinando-nos o que não poderíamos saber de outra forma, bem como dando-nos o que não poderia nos ser dado de outra maneira. Segundo, em ambas as esferas o Filho desempenha um papel singular, como o único mediador por meio de quem a iniciativa do Pai foi tomada. Ele é a Palavra que se fez carne, por meio de quem a glória do Pai foi manifestada. Ele é o imaculado que se tornou pecado por nós para que o Pai pudesse nos reconciliar com ele mesmo.
Além disso, a Palavra de Deus falada por meio de Cristo e a obra de Deus realizada por intermédio de Cristo eram ambas hapax , completadas de uma vez por todas. Nada pode ser acrescentado a nenhuma delas, sem que com isso se deprecie a perfeição da palavra e da obra de Deus realizada por meio de Cristo. Depois, em terceiro lugar, tanto na revelação quanto na redenção, o ministério do Espírito Santo é essencial. É ele que ilumina nossa mente para compreender o que Deus revelou em Cristo, e é ele quem move nosso coração para receber o que Deus alcançou por meio de Cristo.
Assim, nessas duas esferas, o Pai agiu por meio do Filho e continua a agir por meio do Espírito Santo. Os evangélicos consideram essencial crer não apenas no evangelho revelado na Bíblia, mas também em toda a revelação da Bíblia; crer não apenas que “Cristo morreu por nós”, mas também que ele morreu “por nossos pecados” e, de forma que Deus, em amor santo, pode perdoar os crentes penitentes; crer não apenas que recebemos o Espírito, mas também que ele faz uma obra sobrenatural em nós, algo que, de variadas formas, foi retratado no Novo Testamento como “regeneração”, “ressurreição” e “recriação”.
Eis aqui três aspectos da iniciativa divina: Deus revelou-se em Cristo e no testemunho bíblico total sobre Cristo; Deus redimiu o mundo por meio de Cristo e tornou-se pecado e maldição por nós; e Deus transformou radicalmente os pecadores pela operação interna de seu Espírito.
A fé evangélica, assim afirmada, é o cristianismo histórico, maior e trinitário, e não um desvio excêntrico dele. Pois não vemos a nós mesmos oferecendo um novo cristianismo, mas chamando a Igreja ao cristianismo original.
Se “evangélico” descreve uma teologia, essa teologia é a teologia bíblica. Os evangélicos argumentam que são cristãos bíblicos plenos e que, para ser um cristão bíblico, é necessário ser cristão evangélico. Explicando dessa forma, isso pode soar como arrogância e exclusivismo, mas essa é uma crença sincera. Certamente, o desejo sincero dos evangélicos é não ser um cristão mais ou menos bíblico. A intenção deles não é ser sectário. Isto é, eles não se apegam a certos princípios apenas para manter a identidade deles como um “grupo”. Ao contrário, sempre expressaram sua prontidão para modificar, até mesmo abandonar, quaisquer das crenças que estimam, ou, se necessário, todas elas, se lhes for demonstrado que não são bíblicas.
Os evangélicos, portanto, consideram como a única possível via para a reunião das igrejas a via da reforma bíblica. De acordo com o ponto de vista deles, a única esperança firme para as igrejas que desejam se unir é a disposição comum para se sentarem juntas sob a autoridade da Palavra de Deus, a fim de serem julgadas por ela.
O significado da palavra “conservador” quando aplicada aos evangélicos, é que nos apegamos veementemente aos ensinos de Cristo e dos apóstolos, conforme apresentados no Novo Testamento, e que estamos determinados a “conservar” toda a fé bíblica. Isso foi o que o apóstolo determinou que Timóteo fizesse: “Guarde o que lhe foi confiado”, conserve isso, preserve isso, jamais abandone seu apego a isso, nem deixe que isso caia de suas mãos.
* * *
O Rev. John Stott , Ministro Anglicano e escritor, foi ex-Capelão da Rainha da Inglaterra e Reitor Emérito da Paróquia de All Souls, em Londres.  Fonte: “Cristianismo Autêntico – 968 Textos Selecionados da Obra de John Stott” , compilação pelo Bispo aposentado Anglicano Timothy Dudley-Smith (Autor dos dois volumes já publicados de sua Biografia Autorizada), Vida Acadêmica: São Paulo, 2006, www.editoravida.com.br , www.vidaacademica.net , pp.413-420.
Paz a todos vocês que estão em Cristo.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Que se levantem as tempestades


QUE SE LEVANTEM AS TEMPESTADES

(Atos 27:9) - E, passado muito tempo, e sendo já perigosa a navegação, pois, também o jejum já tinha passado, Paulo os admoestava,
(Atos 27:10) - Dizendo-lhes: Senhores, vejo que a navegação há de ser incomoda, e com muito dano, não só para o navio e carga, mas também para as nossas vidas.
Ilustração: Uma menininha ia e vinha todo o dia para a escola. Apesar do mau tempo daquela manhã e de nuvens estarem se formando, ela fez seu caminho diário. Mas os ventos aumentaram e junto os raios e trovões.
A mãe começou a ficar preocupada. A filha poderia ficar com medo. Entrou no carro e seguiu em direção à escola, esperando encontrar a filha. Logo ela avistou sua filhinha andando, mas a cada relâmpago, a criança parava, olhava para cima e sorria. Quando a criança entrou no carro, a mãe perguntou: "O que você está fazendo?" A garotinha respondeu: "sorrindo! Porque Deus não para de tirar fotos minhas".
Todos nós precisamos passar por tempestades na vida.
Há ocasiões que provocamos as tempestades, através de decisões erradas, de impulsos incontroláveis...
Mas as tempestades são permitidas por Deus.
O apóstolo Paulo está sendo julgado em Cesárea e apela para César. Então ele é transferido para Roma em um navio.
Durante a viagem eles passam por uma grande tempestade.
Tudo na Palavra vem ara nos ensinar princípios espirituais.
Deus quer que aprendamos com as tempestades.
I – AS TEMPESTADES VÊM PARA NOS TIRAR DE UM FALSO CONFORTO:
 (Atos 27:13) - E, soprando o sul brandamente, lhes pareceu terem já o que desejavam e, fazendo-se de vela, foram de muito perto costeando Creta.
Eles criam que a viagem estava sob o controle deles: Vento calmo, ideal para a vela, a direção do navio era perfeita. Tudo dentro do controle humano.
FALSO CONFORTO:
·         Porque nós estamos numa batalha contínua
·         O nosso inimigo não descansa
·         Ele não dá trégua na batalha.
Muitas vezes Deus precisa nos sacudir para que não caiamos na estagnação, no conformismo, no sono, no desânimo.
(Atos 27:14) - Mas não muito depois deu nela um pé de vento, chamado Euro-aquilão.
A tempestade sempre nos leva a examinarmos a nossa própria vida.
Nossos valores nossos princípios e crenças.
Nas tempestades é Deus nos falando:
·         É tempo de mudança
·         É tempo de voltar ao relacionamento
·         É tempo de sair do conformismo
·         É tempo de consagrar a vida
·         É tempo de buscar mais.
Ilustração: Em seu ministério, John Wesley enfrentou várias dificuldades, oposições, perseguições, e somente anos depois, ao retornar, é que podia então declarar que a vitória foi alcançada. Quando retornou À Irlanda, havia frutificação; o número de membros multiplicava, em muitos lugares eram construídas capelas espaçosas e cômodas em todos os sentidos, graças à liberalidade do povo cristão.
Embora Wesley  muito se regozijasse com esta prosperidade, compreendia  que ainda não estava isento de perigos, e disse: "não há agora, nenhuma oposição da parte dos ricos nem dos pobres. Em consequência disso, não há muito zelo, pois o povo vive satisfeito com  sua comodidade. Oh, em que circunstâncias o homem se achará livre dos perigos deste mundo? Quando se levanta a perseguição, quantos saem ofendidos!
Quando tudo está em paz, quantos se esfriam e perdem o primeiro amor! Alguns perecem na tempestade, porém, a maioria perece na calmaria. Senhor, salva-nos, senão pereceremos!!" (Extraído do livro Vida de John Wesley)
II – AS TEMPESTADES NOS FORÇAM A RECONHECER QUE, NÓS MESMOS, NÃO PODEMOS FAZER NADA:
(Atos 27: 15) - O navio foi arrastado pela tempestade, sem poder resistir ao vento; assim cessamos as manobras e ficamos à deriva.
Era inútil tentar se mover contra o vento.
Em meio ao momento difícil, não tiveram outra alternativa senão deixar que o vento os levasse.
Nós não podemos fazer nada, mas Deus pode: Fique à deriva nos ventos do Senhor.
(João 3:8) - O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito.
Deixa o Eterno te conduzir nas tempestades, na bonança.
III – AS TEMPESTADES NOS LEVA A DESFAZER DE TUDO AQUILO QUE NÃO PRESTA PARA NÓS:
(Atos 27:18) - E, andando nós agitados por uma veemente tempestade, no dia seguinte aliviaram o navio.
(Atos 27:19) - E ao terceiro dia nós mesmos, com as nossas próprias mãos, lançamos ao mar a armação do navio.
Eles tinham muitas coisas dentro do navio que, naquele momento de tempestade, só serviam para colocar suas vidas em perigo.
Assim é conosco: Arrastamos tantas coisas ao longo de nossa vida, que só servem para nos destruir.
Estas coisas fazem com que nossa caminhada com o Senhor fique pesada, difícil, amarrada.
É tempo de desfazer de todas estas coisas.
·         Mágoas,Ressentimentos, Decepções, Orgulho, Incredulidade, Murmurações...
Deus quer nos levar a compreender que o Único que é necessário para nós é Ele.
O único necessário para nós é o Senhor!
Se não desfizermos destas coisas nocivas, poderemos acabar mal.
Ilustr. "O homem sábio, na tempestade, ora a Deus, não para que fique seguro do perigo, mas para que seja liberto do medo. É a tempestade dentro dele que o põe em perigo e não a tempestade do lado de fora.”
IV – AS TEMPESTADES SURGEM PARA NOS REVELAR ONDE ESTÁ A NOSSA FÉ, SE É EM DEUS OU NAS CIRCUNSTÂNCIAS:
(Atos 27:20) - E, não aparecendo, havia já muitos dias, nem sol nem estrelas, e caindo sobre nós uma não pequena tempestade, fugiu-nos toda a esperança de nos salvarmos.
A esperança fugiu deles
Eles estavam desanimados, pois não viam nenhuma saída
·         Não havia sol (angústias durante o dia)
·         Não havia estrelas (angústias durante a noite)
·         Dias e noites de tempestades, tempo todo
ONDE ESTÁ A SUA FÉ?
(Mateus 8:24) -  E eis que no mar se levantou uma tempestade, tão grande que o barco era coberto pelas ondas; ele, porém, estava dormindo.
Mas Paulo confiava no Senhor:
(Atos 27:21) - E, havendo já muito que não se comia, então Paulo, pondo-se em pé no meio deles, disse: Fora, na verdade, razoável, ó senhores, ter-me ouvido a mim e não partir de Creta, e assim evitariam este incômodo e esta perda.
(Atos 27:22) - Mas agora vos admoesto a que tenhais bom ânimo, porque não se perderá a vida de nenhum de vós, mas somente o navio.
(Atos 27:23) - Porque esta mesma noite o anjo de Deus, de quem eu sou, e a quem sirvo, esteve comigo,
NO MEIO DA TEMPESTADE, DEUS VISITA QUEM CONFIA NELE!
(Atos 27:24) - Dizendo: Paulo, não temas; importa que sejas apresentado a César, e eis que Deus te deu todos quantos navegam contigo.
NO MEIO DA TEMPESTADE, DEUS PRESENTEIA QUEM CONFIA NELE
·         Vou salvar estes presidiários por tua causa
·         Eu dou autoridade pra você diante de todos
·         Estas almas eu entrego nas tuas mãos
·         Sua célula vai crescer, vai ter salvação lá
·         Você será pastor de um grande rebanho
·         Porque você confiou em Mim na hora das tempestades.
(Atos 27:25) - Portanto, ó senhores, tende bom ânimo; porque creio em Deus, que há de acontecer assim como a mim me foi dito.
Diga: Eu creio que acontecerá assim como Deus disse!
Mas para isso, Não abandone o Navio:
(Atos 27:30) - Procurando, porém, os marinheiros fugir do navio, e tendo já deitado o batel ao mar, como que querendo lançar as âncoras pela proa,
(Atos 27:31) - Disse Paulo ao centurião e aos soldados: Se estes não ficarem no navio, não podereis salvar-vos.
Não pule do navio, o lugar que Deus te colocou para navegar.
(Atos 27:34) - Portanto, exorto-vos a que comais alguma coisa, pois é para a vossa saúde; porque nem um cabelo cairá da cabeça de qualquer de vós.
 (Atos 27:37) - E éramos ao todo, no navio, duzentas e setenta e seis almas.
 Fonte:-
Pastor Maucir Lehn Presidente da Igreja Batista Restauração - Cidade de Maua - São Paulo - www.ibrest.org.br 

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Cristão fiél compareca em todos os cultos de sua igreja

Qual é a importância em frequentar os cultos da igreja?
...E considerem-nos uns aos outros, para nos estimulamos à caridade e às boas obras; não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais, quanto vedes que se vai aproximando aquele dia", Hebreus 10:23-25.

1. É uma ordem de Deus.

Não é só um mero conselho. Não é algo optativo; é tão obrigatório quanto qualquer um dos mandamentos feitos por Ele.
É uma ordem de Deus a qual não se pode menosprezar ou dar desculpas a Deus. " Actos 14:16 e Rom 9:18. Ó homem, quem és tu afinal de contas? E quem é Deus?

2. É uma maneira de nos encorajarmos mutuamente:
"Não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros".
A igreja é uma fábrica para Cristo, e todos os membros precisam estar nos seus postos. A igreja é uma escola de instrução espiritual e todos os seus membros devem ser alunos pontuais, assíduos e fiéis.
A igreja é um farol para Cristo e cada membro precisa deixar a sua luz brilhar diante dos homens, para que eles vejam suas boas obras e glorifiquem a Deus. Frequentando os cultos animo e sou animado, além de exteriorizar para o mundo o meu zelo e amor na comunhão com Deus e com os irmãos.
Negligenciar a frequência regular à igreja, e em todos os cultos, é a coisa mais ridícula e sem sentido que uma pessoa dita "cristã" pode fazer.
Cada membro deve sentir como obrigação estar presente na igreja, do mesmo modo que o pastor no púlpito. Não há nada que desanime mais o Pregador da Palavra do que enfrentar bancos vazios porque aqueles que os deviam ocupar tem outras motivações (convívio com a família, um treino ou jogo de futebol, um programa na TV, uma pequena e súbita dor de cabeça, um compromisso assumido fora da igreja sem anuência do pastor, uma actividade "espiritual" sem proveito para a igreja ou mesmo uma visita inopinada a outra igreja).
A ausência num ou noutro culto dos membros que tem Cristo no coração e na "boca" ferem a vontade de Deus com a sua renitência em considerarem mais importante as sua actividades para os outros do que para os seus irmãos da igreja local.
Escrevendo aos Coríntios, o grande apóstolo Paulo disse: "Ora, quando cheguei a Troás para pregar o evangelho de Cristo, não tive descanso no meu espírito, porque não achei ali meu irmão Tito...". Paulo sentia-se tão deprimido com a ausência de Tito, que não podia pregar. Por isso a ausência de um irmão num culto, decepa o coração dos restantes membros que o amam.
Ora se um membro falta a um dever para com seus irmãos e para com Deus está a pecar. (Porque pecado é tudo aquilo que desagrada a Deus).

3. Não pode haver igreja sem a frequência do povo.
A palavra "igreja" significa assembleia; e assembleia é uma congregação de pessoas. Se os membros não se reunirem todos - a igreja não está completa.
A igreja local é constituída por todos, mas todos os filhos de Deus (crianças, jovens e adultos). A ausência de um diminui o valor desta congregação. Se você for o faltoso perde o privilegio das bênçãos, da comunhão, da oferta e por vezes de algo inimaginável.
Recorde-se do que aconteceu com Tomé que perdeu a bênção de receber o Espírito Santo quando Jesus apareceu após ressuscitar. João 20.22.
Não peque... Ocupe sempre o seu banco para orar, louvar a Deus e entusiasmar a fraternidade da igreja.

Nota do editor: Deus nos chamou para sermos igreja e após o batismo o crente fica agregado a uma congregação local (Atos2.41) com todos os deveres e direitos.
Ora, a igreja de Cristo em cada lugar tem necessidade de comunhão, desenvolvimento na edificação, fidelidade e princípios doutrinários  na Palavra de Deus para crescer no seu testemunho, fé, consagração e valorização da Gloria de Deus, em família. Por isso basta a ausência de uma "Pedra viva" para que o Edifício sinta a sua falta.
Ora uma " pedra viva" nunca é dispensável, exceção àqueles que são chamados pelo Espírito Santo para uma tarefa especifica (Atos 13.1-3). Notemos que hoje muitos se auto-nomeiam e se consideram chamados para acções nunca citadas pelo Espírito de Deus

terça-feira, 5 de julho de 2011

Discipulado

PRIMEIRAS PALAVRAS

II Tm 1.13-14: 13 Retenha, com fé e amor em Cristo Jesus, o modelo da sã doutrina que você ouviu de mim. 14 Quanto ao que lhe foi confiado, guarde-o por meio do Espírito Santo que habita em nós.

II Tm 4.3-5: 3 Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; ao contrário, sentindo coceira nos ouvidos, juntarão mestres para si mesmos, segundo os seus próprios desejos. 4 Eles se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando-se para os mitos. 5 Você, porém, seja moderado em tudo, suporte os sofrimentos, faça a obra de um evangelista, cumpra plenamente o seu ministério.
Nossa responsabilidade como líderes e professores cristãos é a de guardar a sã doutrina que um dia recebemos de alguém. Isso pressupõe que recebemos a sã doutrina de outro guardião e ele, por sua vez, de outro. Dessa forma, o discipulado está presente de modo fundamental no processo de transmissão da sã doutrina de geração para geração.

Porém, nesse processo de passagem da sã doutrina é possível que ocorram rupturas, por motivos históricos, sociológicos, teológicos, etc. Há uma multiplicidade denominacional. As comunidades cristãs independentes, das mais diversas confissões, modelos e ênfases (sem entrar na discussão se estas são ou não de fato cristãs) se multiplicam. Nas palavras de Dom Robinson Cavalcanti, na ocasião do retorno de Cristo, não uma noiva, mas um harém será encontrado pelo nosso Senhor. É tipo de ruptura vivenciada por Israel segundo o registro de Juízes:

Juízes 2.10: 10 Depois que toda aquela geração foi reunida aos seus antepassados, surgiu uma nova geração que não conhecia o SENHOR e o que ele havia feito por Israel

Pode parecer uma comparação um tanto pessimista, mas é exatamente a mesma comparação que Paulo faz, quando diz que “virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina”. Tais rupturas, infelizmente, sempre fizeram parte da história da Igreja. Isso explica o motivo pelo qual a busca da Igreja por avivamentos se repetir ao longo dos anos.

Só se pode avivar, despertar, (awakening - despertamento) aquele que um dia viveu. Quando a Igreja busca um avivamento, está buscando viver novamente o que já foi vivido no passado. Porém, após os avivamentos, a Igreja precisa educar as pessoas a fim de se relacionarem com os frutos do avivamento (por exemplo, os capítulos 12-14 de I Coríntios). Do processo de educação surgem tempos de esfriamento, que resultam numa nova necessidade de avivamento. Este movimento, que de forma cíclica constata-se na história, remonta os Pais Apostólicos, e, de certa forma, o próprio Novo Testamento.
Poder-se-ia dizer, em geral, que no período dos pais apostólicos já haviam desaparecido as grandes visões do primeiro movimento extático, ficando em seu lugar um conjunto de ideais produtoras de certo conformismo eclesiástico, possibilitando o trabalho missionário. Muita gente reclama disso. Deploram que tão cedo, já na segunda geração de cristãos, o poder do Espírito Santo se fora. É o que, inevitavelmente acontece nos períodos mais criativos. Vejam o que aconteceu na época da Reforma: logo depois de sua explosão, a segunda geração que a recebeu, começou uma fase de fixação ou de concentração de algumas ideias particulares. São necessidades educacionais que entram em cena para preservar o que foi dado antes. [...] segundo a primeira carta de Paulo aos Coríntios, capítulo 12 em especial, ele já encontrara dificuldades com os portadores do Espírito porque produziam desordem. Assim, acentuou a necessidade da ordem ao lado do Espírito. Nas cartas pastorais, atribuídas a Paulo, a ênfase na ordem eclesiástica torna-se cada vez mais importante. Na época dos pais apostólicos, as experiências espirituais de êxtase tinham quase desaparecido. (TILLICH, 2004, p. 38, 39).
A busca pelo avivamento, tão discutida e pregada em ambientes eclesiásticos em nossos dias, tem se dado num processo diferente daquele que a história apresenta para nós. Nos avivamentos pelos quais que a Igreja passou, a marca essencial era o retorno às Escrituras e à sã doutrina. 

Parece que, em nossos dias, a Igreja, marcada principalmente pela expressão da juventude, busca o avivamento através de seus sentimentos: música, espiritualidade emotiva e uma suposta experiência de comunidade. Ocorre, então, uma mudança drástica na maneira da Igreja buscar o avivamento. A Bíblia e a razão deixaram de ser o centro, perdendo seu lugar para a subjetividade e emoção. Embora a emoção sempre tenha um papel fundamental na religião, quando ela exclui a razão, presta um grande desserviço. 

Para tentar entender um pouco melhor esse processo, vamos dividir o assunto em duas partes: Na primeira parte vamos discorrer brevemente sobre a situação atual da espiritualidade e das Escrituras na Igreja contemporânea. Na segunda parte apresentamos algumas pistas de ação que julgamos ser importantes nesse processo em que estamos vivendo.

1. A SITUAÇÃO ATUAL DA ESPIRITUALIDADE E DAS ESCRITURAS NA IGREJA CONTEMPORÂNEA
A igreja contemporânea é, em linhas gerais, uma igreja jovem. Num artigo escrito para o livro O Melhor da Espiritualidade Brasileira, organizado por Nelson Bomilcar, Marcelo Gualberto afirma que a juventude cristã brasileira tem na espiritualidade sua maior virtude e seu maior fracasso:

I. Virtudes
a. O consumo de material evangélico nunca foi tão grande em toda a história do protestantismo no Brasil.

b. Segundo pesquisas, 80% das decisões por Cristo nas igrejas são de jovens entre 13 e 25 anos.

c. O jovem tem encontrado na igreja um ambiente de expressão de sua espiritualidade.

II. Fracassos
a. Espiritualidade consumista (fast food, quantidades e hedonismo)

b. Música como sinônimo de adoração e como um fim em si mesma.

c. Desconexão entre o que se sabe e o que se vive.

Com o surgimento da geração gospel e do culto-show, com fortíssima ênfase na celebração, não há mais espaço e nem interesse no estudo sistemático da Palavra e no crescimento espiritual. O sensível desinteresse de adolescentes e jovens na escola bíblica dominical (já abolida em muitas igrejas) evidencia este fenômeno. Embora seja uma juventude conectada e bem informada, já que o mundo está à distância de uma tecla, também se trata, sob a ótica espiritual, de uma geração sem conhecimento bíblico, imatura e vulnerável a qualquer ‘novo vento de doutrina’. E doutrina nova é o que não falta. (BOMILCAR, 2005).

Diante desse quadro, que certamente muitos de nós identificamos como realidade em nossas igrejas e/ou denominações, os líderes são tentados pelas estratégias de mercado a atender as demandas dessa juventude. Consequentemente, trocam o cajado por um modelo de gerenciamento. Trocam a simplicidade da partilha do pão pela frieza da cultura midiática. Cedem aos desejos da juventude em ter seus cultos-show e a música como sinônimo de adoração, e acabam por negociar a sã doutrina.

Ceder à tentação de agradar a juventude alimentando-a com uma pseudo-espiritualidade é cometer o erro sobre o qual Paulo alertou Timóteo no texto lido inicialmente: 

II Tm 4.3-5: 3 Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; ao contrário, sentindo coceira nos ouvidos, juntarão mestres para si mesmos, segundo os seus próprios desejos. 4 Eles se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando-se para os mitos. 5 Você, porém, seja moderado em tudo, suporte os sofrimentos, faça a obra de um evangelista, cumpra plenamente o seu ministério.
É claro que atender a demanda da juventude é apenas um exemplo. A lista de assuntos e ênfases que lotam auditórios é ampla: cura, prosperidade, batalha espiritual, etc. No entanto, devemos lembrar que o ministério cristão não consiste em ensinar, pregar ou cantar o que as pessoas querem ouvir. Nosso ministério é guardar a sã doutrina, mantermo-nos fiéis ao chamado: 

I Coríntios 4:1-2: 1 Assim, pois, importa que os homens nos considerem como ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus.  2 Ora, além disso, o que se requer dos despenseiros é que cada um deles seja encontrado fiel.
Antes de termos responsabilidades para com as pessoas, temos responsabilidades para com Deus e Seu Evangelho. Ceder às tentações ministeriais é cometer o crime que Israel cometeu:

Jeremias 2.13: “O meu povo cometeu dois crimes: eles me abandonaram, a mim, a fonte de água viva; e cavaram as suas próprias cisternas, cisternas rachadas que não retêm água.”
Como guardiões da sã doutrina, devemos então perguntar: o que é a sã doutrina? Será que o que eu julgo ser sã doutrina é também para outras pessoas? O que é o Evangelho? Qual o centro da mensagem de Jesus? As respostas para estas perguntas são as mais diversas possíveis.

Temos, então, outro problema: em algum ponto da história do evangelho no Brasil nós nos perdemos, pois já não conseguimos mais definir e explicar facilmente no que consiste o Evangelho ou qual era a mensagem central de Jesus.

Emil Brunner, teólogo suíço, disse que o Evangelho que não puder ser expresso em palavras num cartão postal não pode ser o mesmo Evangelho exposto por Jesus nas ruas empoeiradas da palestina no primeiro século da era cristã.

Sendo assim, entendemos que não se trata apenas de falta de interesse ou de estímulo daqueles que nos ouvem, como concluem alguns, mas falta para todos nós uma reflexão mais profunda sobre o evangelho que temos pregado.
 
2. A DIVISÃO ENTRE A OBRA E A PESSOA DE JESUS
Pode ser que em nossa pregação exista uma divisão entre a pessoa e a obra de Jesus.

2.1. A pregação da obra de Jesus
A obra de Jesus é o centro da pregação evangelística da igreja no Brasil desde tempos imemoráveis. Como obra de Jesus, falo da salvação e da vida eterna. Será que não é assim que temos ouvido e pregado o evangelho: aceite Jesus – consequência: salvação e vida eterna – leia-se: vida eterna depois da morte.

A pregação da obra de Jesus é fruto da concepção da divindade de Jesus isolado de sua pessoa. Ele, por ser Deus, morreu em nosso lugar e nos justificou perante o Pai. A justificação, o perdão dos pecados e a vida eterna, portanto, tem sido o cerne da nossa evangelização.

O problema é que pessoas se convertem a Jesus com a ideia de que agora estão perdoadas de seus pecados e que, quando morrerem, desfrutarão da vida eterna no céu com Deus. E isso já basta!

Dessa maneira, que compromisso tal pessoa tem com a pessoa de Jesus se já é suficiente a bênção de morrer e ir para o céu? O que mais poderiam querer de Jesus, além do livramento do fogo do inferno? Este evangelho nada mais é do que uma espécie de apólice de seguro para ser utilizado na vida futura. Há, portanto, uma soteriologia parcial. É preciso olhar para a pessoa de Jesus para completarmos nosso conceito e kerygma soteriológico.

2.2. A pessoa de Jesus
Devemos nos lembrar que a heresia que João condenou em sua primeira carta consistia na negação não a divindade de Jesus, mas a humanidade de Jesus. Esta heresia foi posteriormente nomeada Docetismo.

I Jo 4.2,3: 2 Vocês podem reconhecer o Espírito de Deus deste modo: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne procede de Deus; 3 mas todo espírito que não confessa Jesus não procede de Deus. Esse é o espírito do anticristo, acerca do qual vocês ouviram que está vindo, e agora já está no mundo.
[O docetismo é] o ensinamento segundo o qual Jesus era plenamente Deus, mas apenas pareciaser humano (termo derivado do gr. dokeo, “parecer ou aparentar”). Os teólogos docetistas realçavam a diferença qualitativa entre Deus e o ser humano e, portanto menosprezavam os elementos humanos da vida de Deus a favor dos que remetiam à sua divindade. A igreja primitiva rejeitou o docetismo, considerando-o uma interpretação herética do ensino bíblico sobre Jesus. (GRENZ, 2002, p. 42).

Da mesma forma, nega-se a humanidade de Jesus quando Dele extraímos somente o que nos interessa, isto é, a salvação e a vida-eterna (geralmente entendida como pós-morte). Há implícito aqui o que Dietrich Bonhoeffer chamou de graça barata. Isto é, uma graça que extrai da cruz as bênçãos da vida-eterna e negligencia a necessidade do discipulado.

Assim, é urgente resgatar o estudo e a pregação do Jesus da história, do Verbo que se fez carne e habitou entre nós. Precisamos olhar para a humanidade de Jesus, seus ensinos e implicações para a vida.

E quando olhamos para a pessoa de Jesus, descobriremos que vida-eterna não significa “vida depois da morte”, mas, nas palavras do Mestre: vida eterna é vida em abundância, em plenitude, aqui e agora (Jo 10.10). No mesmo sentido, Paulo fala que temos paz com Deus (Rm 5.1). Sabemos que paz no hebraico (shalom) significa plenitude de vida. Sobre esse assunto, traduzo aqui um texto de René Padilla:
“A vida em abundância sobre a qual Jesus define sua missão (Jo 10.10) é a vida que no Antigo Testamento se define em termos de shalom, vocábulo hebreu cujo sentido é tão rico que na tradução grega do Antigo Testamento [...] se usam mais de vinte e cinco palavras gregas para traduzi-lo. Shalom é prosperidade, saúde integral, bem estar material e espiritual, harmonia com Deus, com o próximo e com a criação. Shalom é plenitude de vida.

Deste ponto de vista, não se justifica a concepção da vida plena em termos exclusivamente espirituais. A teologia segundo a qual a vida que Cristo oferece é uma vida ultramundana, além da história, está relacionada com o pensamento grego com sua ênfase na dicotomia entre a eternidade e o tempo, entre alma e corpo, entre o espiritual e o material. Necessita ser corrigida pela visão bíblica, para a qual a esperança escatológica inclui uma nova criação, um novo céu e uma nova terra, e a ressurreição do corpo.

A vida “em abundância” ou “eterna” é a vida do Reino de Deus que irrompeu na história na pessoa e na obra de Jesus Cristo e que culminará na segunda vinda de Cristo, a Parusía. É a vida em que, aqui e agora, todas as coisas são feitas novas pelo poder de Deus (II Co 5.17); é vida que deriva sua qualidade da relação com Deus e se manifesta em todas as esferas da sociedade, no trabalho, na família e 
na igreja.

Os que, em conformidade com a missão de Jesus Cristo, promovem a plenitude de vida não podem menos que tomar a responsabilidade sobre as difíceis questões delineadas pelo sistema econômico atual, [...] que define a vida em ter ao invés de ser. A “vida em abundância” é a vida em que se cumpre cabalmente o propósito para qual Deus a criou e a sustenta; é a concretização do amor e a justiça do Reino de Deus. Promove-se esta vida na medida em que se vive conforme o propósito de Deus, se anuncia a mensagem da vida em Cristo [...] e se atua em serviço da vida em todas as suas dimensões.”

A diferença na prática: a pregação da obra de Cristo nós expressamos com palavras; a pregação da pessoa de Cristo, que não se distingue de Sua obra, nós expressamos com nossas vidas. O discipulado é o evangelho proclamado com a vida, de modo integral. O discipulado preocupa-se com a “vida em abundância”, pois não se limita a pregar para “ganhar almas”, mas se põe a serviço da vida, em todas as suas dimensões.

2.3. Pistas para Ação: o ponto de partida
Aqui cabe a pergunta: por que discipular? Qual a ligação entre discipulado e missão? Para tentar responder as perguntas acima, vamos considerar o evangelho de Mateus e seu paradigma missionário, a fim de descobrir como os primeiros cristãos entenderam sua vocação e missão.

É importante ressaltar que não há nenhuma novidade naquilo que afirmamos como “ponto de partida”, apenas o que entendemos ser a sã doutrina, conforme pregada por Cristo, isto é, o centro da pregação de Jesus: o Evangelho do Reino. Ao abordarmos o Evangelho do Reino não falamos apenas da divindade ou da humanidade de Jesus, mas sim do plano de Deus em Cristo de reconciliar consigo todas as coisas, fazendo uma nova criação – II Coríntios 5.17, 19. Nosso olhar, portanto, deve ser mais abrangente.
 
3. O PARADIGMA MISSIONÁRIO DE MATEUS
O Evangelho de Mateus contém uma das perícopes mais importantes para a teologia da missão. Muito utilizada em campanhas missionárias, principalmente para indicar a necessidade de “ir” para um campo missionário, Mt 28.16-20 pode ser um risco para quem o interpreta meramente como um sloganmissiológico. Para que seja possível compreender a “Grande Comissão” como Mateus a concebeu, é necessário olhar para o todo de seu evangelho. 

David J. Bosch (2009) elenca uma série de frases de teólogos que se empenharam em definir a perícope citada acima: “um resumo de todo o evangelho de Mateus”; “o clímax do evangelho”; “uma espécie de culminação de tudo o que foi dito até esse ponto”. Tais frases mostram para nós que a Grande Comissão não pode ser isolada do restante do evangelho de Mateus, mas deve ser interpretada à luz do contexto maior do evangelho.

O primeiro evangelho, conforme está disposto em nosso Novo Testamento, é um texto essencialmente missionário. “Foi primordialmente por causa de sua visão missionária que Mateus se pôs a escrever seu evangelho, não para compor uma ‘vida de Jesus’, mas para oferecer orientação a uma comunidade em crise quanto à maneira como deveria entender sua vocação e missão” (BOSCH, 2009, p. 83 – itálicos meus). Ou seja, o evangelho de Mateus apresenta para nós o caminho para descobrirmos nossa identidade missionária, a saber, fazer discípulos de Jesus Cristo.

Ensinando-os a guardar todas as coisas...” 
A imagem de Jesus, por causa da frase acima, pode parecer legalista. Porém, ao dizer que os discípulos deveriam fazer discípulos e que o conteúdo do ensino era obediência aos mandamentos, ou ordenanças, de Jesus. Protestantes podem preferir ouvir falar em proclamação ao invés de ensino, ou perdão dos pecados e vida eterna, ao invés de guardar ordenanças. E de fato fazemos isso.

Mateus utiliza três palavras para definir a atividade missionária do cristão: fazer discípulos, batizar e ensinar. Por que não utilizar palavras como “pregar”, “proclamar” ou “evangelizar”? Parece que Mateus está consciente de seus propósitos aos escolher as palavras.

Por trás de sua opção terminológica há importantes considerações teológicas (leia-se: missiológicas). Para apreciá-las, é importante reconhecer que, para Mateus, ensinar de modo algum é um empreendimento meramente intelectual [...] O ensino de Jesus é um apelo à vontade de seus ouvintes, e não primordialmente a seu intelecto; é uma conclamação a uma decisão concreta de segui-lo e submeter-se à vontade de Deus [...] Além disso, o ensino não implica meramente na inculcação dos preceitos da Lei e a obediência a eles, como o judaísmo contemporâneo o interpretava [...] Não, o que os apóstolos deveriam “ensinar” às novas discípulas, de acordo com Mateus 28.20, é submeter-se à vontade de Deus revelada no ministério e ensino de Jesus. Não há evangelho que possa distanciar-se [...] do Jesus terreno. Suas instruções permanecem válidas e autoritativas, também para o futuro. É preciso manter a continuidade entre o Jesus terreno e o Cristo exaltado. (BOSCH, 2008, p. 93).

Fazei discípulos...”
Neste ponto está uma quase exclusividade de Mateus. A terminologia no grego é fazer discípulos. O termo  grego utilizado só aparece quatro vezes no Novo Testamento, sendo três vezes em Mateus e uma vez em Atos: Mt 13.52; 27.57; 28.19 e At 14.21.

O termo “discípulos” é comum nos evangelhos e em Atos. Dentre os sinóticos, é Mateus quem mais o utiliza: 72 vezes em Mateus; 46 vezes em Marcos; 37 vezes em Lucas e 28 vezes em Atos. “Discípulo” é a definição do posterior “cristão” (At 11) nos evangelhos. Em nenhuma outra parte do NT o termo é encontrado, nem mesmo em Paulo. O termo mais utilizado como complemento de “discípulo” é “seguir”, “após” (Ex: Lc 9.23; Mt 9.9).

Resumindo, a tarefa do discípulo de Jesus é transformar outras pessoas naquilo que eles são, isto é, discípulo. Dessa maneira, não existe ruptura entre o ministério do Jesus terreno e a missão da igreja, guiada pelo Cristo exaltado. Os discípulos são modelados de acordo com os primeiros discípulos de Jesus, que foram modelados pelo próprio Jesus.

O ensino do discipulado está ligado ao ensino de Jesus. O discípulo de Jesus ensina outras pessoas a obedecer às ordenanças de Jesus. O conteúdo do discipulado é o evangelho do Reino de Deus e suas subdivisões e consequências. 

4. JESUS E O EVANGELHO REINO
O Evangelho do Reino era central na pregação de Jesus:
Marcos 1.14-1514 Depois que João foi preso, Jesus foi para a Galiléia, proclamando as boas novas de Deus. 15 “O tempo é chegado”, dizia ele. “O Reino de Deus está próximo. Arrependam-se e creiam nas boas novas!”
Os apóstolos de Jesus Cristo tinham a consciência de que estavam, por intermédio do Espírito Santo, dando continuidade àquilo que Jesus “começou a fazer e a ensinar”, tendo sido capacitados pela doação do Espírito Santo, que os conduziria à missão, a saber, continuar a proclamação e ensino acerca do Reino de Deus:
Atos 1.1, 81 Em meu livro anterior, Teófilo, escrevi a respeito de tudo o que Jesus começou a fazer e a ensinar [...] 8 Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra.

A pregação apostólica, portanto, estava imbuída da sublime tarefa de pregar e ensinar acerca do Reino de Deus:
Atos 28.30-3130 Por dois anos inteiros Paulo permaneceu na casa que havia alugado, e recebia a todos os que iam vê-lo. 31 Pregava o Reino de Deus e ensinava a respeito do Senhor Jesus Cristo, abertamente e sem impedimento algum.


4.1. O que é o Reino?
“O Reino de Deus é sua realeza de Rei, seu governo, sua autoridade... o Reino não é uma região, um domínio nem um povo, mas o reinado de Deus. Jesus disse que devemos ‘receber o reino de Deus’ como uma criança (Mc 10.15). O que é recebido? A igreja? O céu? Não! O governo de Deus é recebido. A pessoa, a fim de entrar no futuro domínio do Reino, tem de se entregar, aqui e agora, em total confiança ao governo de Deus”. (LADD, 2008).

Pela definição acima, não há espaço para interpretarmos a obra de Cristo separadamente de sua pessoa. No texto de Marcos 1.14, 15, podemos perceber que o Reino de Deus chega ao mundo na pessoa de Jesus Cristo. É Ele quem inaugura o reinado de Deus sobre a terra.

Com isso, o reinado de Deus traz como consequência o discipulado. É submisso ao Rei, ou seja, faz parte do reinado de Deus, aquele que se coloca sob o aprendizado de Jesus hoje. Ou seja, nós não apenas fomos salvos, mas estamos sendo salvos.
 
4.2. Quais as consequências para o ensino e pregação da Palavra?

Creio que o texto que melhor resume o relacionamento entre salvação futura e o discipulado hoje é o de Tito 2.11-15:
Tito 2.11-1511 Porque a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens. 12 Ela nos ensina a renunciar à impiedade e às paixões mundanas e a viver de maneira sensata, justa e piedosa nesta era presente, 13 enquanto aguardamos a bendita esperança: a gloriosa manifestação de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo. 14 Ele se entregou por nós a fim de nos remir de toda a maldade e purificar para si mesmo um povo particularmente seu, dedicado à prática de boas obras. 15 É isso que você deve ensinar, exortando-os e repreendendo-os com toda a autoridade. Ninguém o despreze.

A graça que nos salvou é a mesma graça que continua a atuar em nós. Essa atuação presente e contínua da graça em nós é o aprendizado.

A palavra grega é paidéia que significa: castigo, disciplina, aprendizado, discipulado. Não é aquele ensino imediato e sistematizado, do tipo “bancário” (Paulo Freire), mas ensino no sentido de formação. Ao falar em paidéia “não se pode evitar o emprego de expressões modernas como civilização, cultura, tradição, literatura ou educação; nenhuma delas, porém, coincide realmente com que os gregos entendiam porPaidéia. Cada um daqueles termos se limita a exprimir um aspecto daquele conceito global, e, para abranger o campo total do conceito grego, teríamos de empregá-los todos de uma só vez”. (JAEGER, 2003).

Essa palavra ocorre várias vezes em Hebreus 12. Mas em Apocalipse 3.19 traz resumidamente o princípio de Paidéia de Hb 12:
Apocalipse 3.19: “Repreendo e disciplino aqueles que eu amo. Por isso, seja diligente e arrependa-se”
A obra da graça em nós não se limita a salvar para a vida depois da morte. A obra da graça é, fundamentalmente, nos formar para vivermos eternamente sob o reinado de Deus. Transcrevemos a seguir algumas palavras de Dallas Willard sobre o assunto:
Ao contrário do que se costuma dizer, grande parte de nossos problemas não se deve à dificuldade de transferirmos para o coração aquilo que sabemos com a mente. Muitos dos empecilhos são associados ao fato de princípios teológicos equivocados em nossa mente teremchegado ao coração. Esses conceitos errados controlam nossa dinâmica interior de tal modo que, mesmo com a ajuda da Palavra e do Espírito, a mente e o coração não conseguem corrigir um ao outro. [...] graça não é o oposto de esforço, mas sim, de mérito. [...] A graça não diz respeito apenas ao perdão dos pecados. Muitas pessoas não sabem disso, e esse é um dos principais resultados da prática atual de resumir o evangelho a uma teoria da justificação. [...] muitas pessoas entendem a justificação como o único resultado essencial do evangelho, e o evangelho que pregam [...] é de que nossos pecados podem ser perdoados. E só! 
(2008, p. 64).

A preocupação de Willard é que a justificação (perdão dos pecados) tornou-se o centro da teologia cristã. O problema é que, desta forma, alimentamos o termo cunhado por Dietrich Bonhoeffer (2004, p. 9-19), a saber, a graça barata. Para Bonhoeffer, a graça barata é a justificação do pecado, e não do pecador. É a graça que não implica em arrependimento e disciplina. “Não pode ser barato para nós aquilo que custou caro para Deus”. Resumindo, a graça barata é a graça sem discipulado, enquanto a maior graça que o ser humano pode receber é ser chamado para ser discípulo de Jesus. 

Um discípulo de Jesus é aquele que obedece (Mt 28.20). O discípulo, como diz o texto de Tt 2.12, é aquele que aprende a renunciar o mundo que há dentro dela e moldar seu caráter com os valores do Reino de Deus.

Para viver dentro da graça consumidora, basta ter uma vida santa. O verdadeiro santo consome graça como um 747 consome combustível na decolagem. Torne-se o tipo de pessoa que pratica rotineiramente aquilo que Jesus fez e disse. Você consumirá muito mais graça levando uma vida santa do que pecando, pois todo ato santo que você realizar terá de ser sustentado pela graça de Deus. E esse sustento é o favor totalmente imerecido de Deus em ação. É a vida de regeneração e ressurreição [...] a justificação não é algo separável da regeneração. E a regeneração se desenvolve de modo natural em santificação e glorificação. (WILLARD, 2008, p. 65).

 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não haverá missão bem sucedida enquanto a mensagem que extraímos da Palavra de Deus não for o Evangelho do Reino em sua essência, conforme pregado por Jesus e pelos apóstolos. 

A consequência de se pregar o Evangelho do Reino é que pregaremos compromisso, submissão, e a realidade da vida eterna aqui e agora. O inverso – o evangelho da salvação e da vida depois da morte – só poderá gerar falta de compromisso e falta de interesse, uma vez que só se extraí da cruz aquilo que se quer.

Não basta sermos pregadores da justificação e nos esquecermos da santificação e da esperança. Santificação é a vida no Reino hoje, que se dá pelo discipulado. Não há graça maior que essa. A vida no Reino é vida que está sendo formada, através do ensino, da repreensão, da alegria e do amor. 

Queremos ser relevantes em nosso ensino? Devemos resgatar a essência do ministério de Jesus Cristo, isto é, o Evangelho do Reino de Deus. Devemos ser, em primeiro lugar, transformados por Ele, pois este Evangelho não se ensina somente com palavras, mas com vida e amor. (Tg 1.22; I Jo 3.16-18).

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOMILCAR, Nelson (org.). O Melhor Da Espiritualidade Brasileira. São Paulo: Mundo Cristão, 2005.
BONHOEFFER, Dietrich. Discipulado. 8 ed. São Leopoldo: Sinodal, 2004.
BOSCH, David J. Missão Transformadora: mudanças de paradigma na teologia da missão. 3 ed. São Leopoldo-RS: Sinodal; EST, 2009.
GRENZ, Stanley; GURETZKI, David; NORDLING, C. Fee. Dicionário de Teologia Edição de Bolso. São Paulo: Vida, 2002.
JAEGER, Werner. Paidéia: a formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
LADD, George Eldon. O Evangelho do Reino. São Paulo: Shedd Publicações, 2008.
TILLICH, Paul. História do Pensamento Cristão. 3 ed. São Paulo: ASTE, 2004.
WILLARD, Dallas. A Grande Omissão. São Paulo: Mundo Cristão, 2008.
______________. A Conspiração Divina. São Paulo: Mundo Cristão, 2001.